A arte é coisa de gente


    Eu até demorei um pouco a escrever sobre isso, um pouco por refletir sobre o assunto e tanto mais por ficar pensando em como essa discussão vai de fato melhorar o nosso cenário literário. Refleti, pensei e não cheguei a lugar nenhum, mas acho que consigo ver um pouco a mais agora.
    Não vou mentir, senti um pouco de aversão ao ler o desabafo de Lya Luft sobre o desapontamento dado ao votar em JB (sim, nesse espaço onde dito as regras, o nome dele não será escrito para não dar munição a algoritmos). Sabe aquele sentimento de: como que uma pessoa ligada a literatura pode ter jogado seu voto no lixo da história o dando para esse homem?
    Me vi em um emaranhado de pensamentos, de como? O por que? Como ela não viu quem ele é? Os discursos de ódio dele não foram claros o suficientes? E tantas outras perguntas que somente ela, ou outro escritor ou artista que tenha dado seu voto ao retrocesso e se arrependido pode responder. Eu pelo menos durmo com a consciência tranquila, e por ter a consciência tranquila pude entender um pouco mais a frase mais certa que existe: a arte é coisa de gente.
    E gente, é coisa complexa, sem simplificações ou atalhos. Gente como eu e você é coisa para não se entender, só sentir e tentar levar para frente na dança doida do progresso, afinal de contas, a ordem vem pelo caos. Pena que escolheram o melhor arauto do caos para ser chefe do executivo.
    Lya me fez lembrar de Rachel de Queiroz, que passava um pano descomunal para a ditadura militar brasileira e era amiga íntima do ditador Castelo Branco. Do outro lado temos Gabriel García Márquez que morreu negando que Fidel Castro cometeu crimes contra a humanidade. É complexo.
    O que mais existe na história literária são autores que defendem suas ideologias, posições políticas e mais o que seja e não enxergam quando o que defendem passam dos limites, ou não assumem erros cometidos para defender o que acreditam.
    Posso até estar sendo um pouco duro, mas não acredito nas palavras de desconsolo de Lya Luft, 2022 logo logo vai chegar e por um pensamento enraizado de classe média alta "oprimida" pela ascensão da classe mais baixa vai votar no candidato que prometer fuzilar a oposição. Gostaria até de saber se ela votou em Collor na década de 90.
    Julgamentos de lado, o que mais posso falar é que depois de tanto refletir e pensar sobre isso, e de me perder no entendimento de como o ser humano é complexo, é que a cada dia que se passa vai ser mais difícil separar o autor de sua obra. Ainda mais com essa era que vivemos de alta conectividade onde muitas vezes a relação autor-leitor vem antes da relação leitor-obra.
    Irei do melhor modo brasileiro que se pode ser e cagar para quem é Lya Luft, e focar em sua obra, deixo as críticas para sua produção literária, a autora até me provar por a mais b que não compactua com pensamentos retrógrados com ações concretas e não apenas palavras jogadas ao vento ficará na mesma caixinha em que se encontram Rachel de Queiroz, Jorge Luis Borges, Louis-Ferdinand Céline, Rubem Fonseca, Monteiro Lobato e tantos outros que defenderam o indefensável, mas que tem obras que precisam ser lidas.
    A arte é coisa de gente e gente é coisa complexa, e a arte é a parte mais fácil de se entender desse mar conturbado, então para não nos transformarmos, leitor e escritor, em dois seres feios que não se entendem, eu prefiro pelo menos entender a parte que me ajuda a evoluir.
    Achar um significado na arte que possa mudar nossas vidas é o caminho, porque ter que entender a pessoa por trás dela, por hora eu passo.

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